“A gente veio atrás de realizar um sonho, e estamos nessa situação. Virou um pesadelo! Sabíamos que enfrentaríamos dificuldades, mas não imaginaríamos o descaso, a falta de respeito e a humilhação”
Estudantes acreanos, que cursam medicina na Bolívia, procuraram o ac24horas para denunciar que estão sendo “obrigados” a permanecer no país vizinho sob ameaças de reprovação da fase de internato, por partes de autoridades bolivianas.
Indignada, uma estudante que não quis se identificar, relatou que após o surto do novo Coronavírus (Covid-19), os estudantes esperavam que seriam liberados do último ano de internato para voltar às suas famílias, mas não é bem isso que está acontecendo.
Segundo ela, 50 estudantes foram abandonados a mercê da própria sorte. Ela relatou ainda que as universidades “lavaram as mãos” e deixaram toda a responsabilidade ao Comitê Regional Docente Assistencial e Investigação (CRIDAI) quanto a liberação dos estudantes do internato.
“Nós internos do Hospital Roberto Galindo já tivemos duas reuniões com os chefes do internato para tentar discutir o assunto, mas eles só impõem as normas a serem seguidas dentro do hospital. Se a fronteira fecha e ninguém vem, eles não se importam e dizem que estaremos reprovados se faltarmos”, disse.
Ela conta que os internos estão sendo “obrigados” a continuar trabalhando. Se alguém desiste são ameaçados com a reprovação automática. Ela afirma que a situação é tão precária que a maioria dos estudantes não têm sequer um lugar nem para dormir.
“A maioria dos internos não tem lugar pra ficar. Estamos ficando de favor em outros lugares, alugando quartos ou até mesmo ficando direto no hospital. No hospital, a alimentação é só pro interno (estudante) que está de plantão no dia. A suspensão do internato seria a solução, mas a realidade é que os chefes não querem perder os internos, que são quem fazem o trabalho pesado no hospital. Praticamente nenhum médico fica vigiando os pacientes de perto. Ali, tudo é os internos. Então sem a gente, eles vão ter que pôr a mão na massa, coisa que não querem. E o pior de tudo é que se algum de nós adoecer, não temos apoio nenhum”, relatou.
A estudante informou ainda que o governo boliviano determinou um toque de recolher a partir das 17h. “A partir das 17h é proibida a circulação na rua, se alguém for pego vai preso. Hoje recebi um áudio de que, a partir de amanhã, a quarentena será de 24 horas, ou seja, em nenhum momento do dia podemos circular nas ruas. Só pra ir pro hospital e com credencial”, destacou.
Por fim, a estudante conclui que o sonho de virar médica virou um pesadelo. “A gente veio atrás de realizar um sonho, e estamos nessa situação. Virou um pesadelo! Sabíamos que enfrentaríamos dificuldades, mas não imaginaríamos o descaso, a falta de respeito e a humilhação”, disse em lágrimas, em tom de angústia.