Os últimos negócios a serem fechados foram bares, cafés e restaurantes. Na última quinta-feira (12), o governo da Itália ampliou ainda mais a já extensa lista de estabelecimentos comerciais e espaços públicos que devem trancar as portas durante o período de quarentena no país.

Porém, bem antes da determinação oficial, o cotidiano de muitos italianos já tinha deixado de incluir esses lugares. O medo da difusão do coronavírus restringiu a rotina às atividades essenciais.

Em Angri, cidadezinha de 34 mil habitantes no sul da Itália — a 250 km de Roma e 33 km de Nápoles —, o primeiro caso de contaminação pelo covid-19 foi registrado na noite do domingo (15).

Um homem de 47 anos está internado no hospital Cotugno, em Nápoles, o centro de referência para o coronavírus na região.

Mas já há uma semana as restrições de movimento impostas aos habitantes da cidade são pesadas. A maioria passou a poder sair de casa só para ir ao trabalho, para comprar comida nos supermercados, açougues e quitandas, ou remédios nas farmácias.

A movimentação é permitida somente com uma autocertificação na qual se garante por escrito a necessidade e o motivo do deslocamento. Mentir é crime passível à multa de 206 euros — o equivalente a R$ 1.150 — e pena de reclusão de até três meses. 

Para garantir que a lei seja cumprida, o governador da região e o prefeito da cidade solicitaram à polícia a realização de patrulhas e blitze. O controle é feito, ao longo de todo o dia, entre motoristas e pedestres. Mas o número de pessoas que atualmente precisam sair de casa para trabalhar é bastante reduzido, limitando-se praticamente aos empregados de fábricas e setores considerados essenciais à sociedade.

Muitas empresas e instituições passaram a adotar a modalidade home office, pedindo a seus funcionários de permanecerem em casa. Outras fecharam temporariamente e seus trabalhadores entraram em um período de licença forçada.

A Defesa Civil municipal também passou a realizar ações pontuais para organizar as filas em frente a farmácias e supermercados da pequena cidade medieval. É preciso respeitar a distância de um metro entre as pessoas e somente um número limitado de clientes entra por vez nos estabelecimentos. Mesmo sendo severas, as medidas têm sido respeitadas.

No final de semana, as filas em frente a alguns supermercados chegaram a durar mais de uma hora. Apesar da demanda crescente, não falta mercadoria. Pelo contrário, a reposição dos produtos é feita rapidamente e é comum encontrar supermercados com prateleiras abarrotadas. Já nas farmácias, tem sido cada vez mais difícil achar máscaras de proteção e álcool em gel.

Carros de som da prefeitura com auto-falantes circulam pelas ruas reforçando a determinação de ficar em casa o máximo possível. “Município de Angri, o prefeito adverte os cidadãos de restarem [permanecerem] em casa e saírem só em caso de real exigência, que será verificada. Ficarão abertas lojas alimentares de primeira necessidade e farmácias”, diz o aviso que sai das caixas de som. Bancos e bancas de revista também permanecem abertos.

Fechamento voluntário

Embora o executivo nacional autorize ainda o funcionamento de algumas outras atividades locais, como oficinas mecânicas e hidráulicas, postos de gasolina e pequenos pontos para o pagamento de boletos e venda de cigarros, a maior parte dos proprietários decidiu fechar as portas por conta própria. Outros tipos de comércio passaram a funcionar somente com pedidos por telefone e entrega em domicílio.

Apesar de não existir também nenhum decreto nacional que determine o fechamento de parques públicos, o prefeito, por segurança, proibiu o acesso ao principal espaço de lazer da cidade. A “vila”, como os angreses chamam o parque municipal, era o ponto de encontro das famílias, onde as crianças brincavam e os adolescentes e adultos jogavam conversa fora. Em tempos de pandemia, segundo a administração municipal, o espaço poderia se transformar em foco de contaminação. As grades devem seguir fechadas até 3 abril, data marcada para o fim da quarentena em todo o país.

Angri, na realidade, é um retrato do que tem acontecido em toda a península. Desde o dia 10 de março, quando o governo publicou o decreto que ampliou o estado de emergência para todo o território nacional, a Itália passou a ser um país de cidades desertas.

R7