Pouco mais de uma semana depois de primeiras pedidas de quarentena, mercado de trabalho do Rio já sofre efeitos da crise
Premiada, a sorveteria Vero, em Ipanema, na Zona Sul do Rio, se preparava para o aniversário de dez anos na cidade, que aconteceria em dezembro. Com o efeito econômico devastador da crise do coronavírus pelo mundo, a loja precisou refazer os planos. Na última sexta-feira (20), o italiano Andrea Panzacchi fechou as portas e dispensou os 15 funcionários de seu empreendimento. Assim como os funcionários da casa, muitos outros trabalhadores de diversos setores estão sem emprego na cidade, vítimas de uma crise iniciada há pouco mais de uma semana no Rio.
"Acho que havia aquela ilusão de que não chegasse até aqui. Mas eu tenho parentes na Itália e estava vendo uma situação muito mais séria. Comecei a me preocupar bem antes da última semana e a sentir que seria grave e que pela saúde das pessoas, das que trabalham comigo e das outras, teria que fechar", contou Andrea emocionado.
Ele fez um acordo com seus funcionários, alguns que estavam desde o início da loja, e pretende reabrir a sorveteria no futuro, uma vez que a pandemia esteja controlada. Pensa que talvez a loja possa migrar para um lugar mais barato -- o atual aluguel na Visconde de Pirajá custa R$30 mil. "Talvez esse seja o momento para se reinventar", diz ele.
Demissão pelo Whats App
A vendedora Vanessa*, que pediu para não ter o nome verdadeiro divulgado, havia saído de outro emprego há pouco tempo para começar a trabalhar em uma loja de roupas femininas em Ipanema há cerca de um mês.
Ela percebeu uma grave queda no movimento nos últimos dias. Após a recomendação de quarentena da última sexta-feira (13), a loja seguiu aberta e Vanessa seguiu trabalhando. Até que, na última quarta (18), depois de trabalhar, ao chegar em casa, ela recebeu pelo WhatsApp o aviso de que estava sendo demitida.
"Recebi uma foto da carta de demissão e não acreditei. Eles me disseram que as pessoas que estavam lá há menos tempo estavam sendo mandadas embora, que gostavam muito de mim, e que depois iriam tentar me realocar. Me senti muito humilhada, mas não quero ter meu nome revelado porque pode ser que precise desse emprego no futuro", diz ela.
Restaurante fechado e equipe demitida
Desde a última semana, a funcionária Carolina Silva, do restaurante a quilo Bocca Bocca, no Centro, percebeu uma queda muito grande no movimento.
"Atendemos muitos funcionários da Petrobrás, mas como estavam todos trabalhando de casa, ficou vazio. O movimento caiu muito. Na segunda-feira (16), eu cheguei às 7h para trabalhar até 16h. Quando deu 15h40, o chefe nos chamou pra reunião e disse que eu e mais duas pessoas seríamos demitidas. No dia seguinte, foram mais 12. Todos os funcionários", conta ela.
Moradora do Morro do Mandela, Carolina, de 27 anos, também faz é bar girl e costuma trabalhar em eventos. "Mas todos foram cancelados. Todos os meus amigos que fazem evento também estão bem preocupados. Muito difícil essa situação", lamentou ela.
Corte após uma semana de trabalho
A assistente de comunicação Danielle Velasco, de 29 anos, estava animada com o novo emprego, que havia começado há poucos dias.
"Entrei na segunda-feira (9) da semana passada em uma agência que tinha a maior parte dos clientes como agências de hotéis e restaurantes, que são os setores mais atingidos por essa crise. Na semana passada, eles perderam dois clientes que estavam prestes a fechar contratos", conta ela.
"Na terça-feira (17), um dos clientes adiou a inauguração de um novo restaurante para pelo menos dois meses depois e eu acabei sendo demitida por conta dos clientes perdidos, fiquei triste, mas entendi o que aconteceu. Minha chefe disse que foi uma questão de não conseguir fechar as contas final do mês. Quando a situação se restabelecer, posso ser recontratada", diz.